terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Papa, os blindados e as ervilhas.

Em declarações recentes, o Papa Bento XVI admitiu o uso do preservativo como medida de combate à transmissão de doenças sexuais. O eco destas declarações não se demorou a fazer sentir e as reacções positivas surgiram de toda a parte. Dos vários cantos do mundo ouviu-se que tais declarações papais se tratavam de um grande passo, que eram um avanço muito importante para a Igreja Católica, que eram um sinal de evolução, e por aí fora...um rol de "palmadinhas" nas costas do Papa. Sim senhor! Se é para isto também quero ser Papa! Vou à comunicação social constatar o óbvio e sou o maior!

Eu, a falar para a comunicação social, em pleno ano 2010:

- Caros senhores, estamos aqui reunidos... - a falar com aquele entusiasmo de discurso político de quem acha que está a ser genial mas não está a dizer nada de jeito - ...para vos informar que a Terra é redonda!

Toda a gente:

- Wohooooo! És o maior pá! Ah "ganda" Diogo!

- E mais! - prossigo eu com uma confiança cega nas minhas próprias palavras - Quero também aqui informar, que para se fazer ervilhas com ovos...é preciso não só ervilhas, como também...ovos!

Claro que a admiração por mim seria logo expressa:

- Como é que descobriste? És um génio Diogo!
- Casa comigo!
- Dá-me a tua camisola e faz-me ervilhas com ovos!

Seria a loucura, o devaneio total, a apoteose da constatação do óbvio.

Além disto, não percebo porque se fala tanto da questão do atraso dos blindados e porque é que se gerou tanta indignação à volta deste assunto, visto que em matéria de atrasos ainda somos uns meninos.
Ora, o Berlusconi chegou uma hora atrasado à Cimeira da NATO, os blindados chegaram a Portugal com duas semanas de atraso, as declarações proferidas pela Igreja chegaram com dois séculos de atraso.  No fundo, as declarações do Papa agora têm tanta utilidade quanto os blindados dois dias depois do fim da Cimeira.

Com um pouco de sorte, em 2310 a Igreja ainda vem dizer que o preservativo também se pode usar como método contraceptivo! Que audácia!



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Regressão à infância e a febre dos desenhos animados.


Em mais uma expressão clara do poder do Facebook, tem-se assistido a uma invasão massiva de desenhos animados como fotos de perfil. Apesar de tanto boneco junto já começar a ser extremamente boring, consigo perceber que traga uma certa nostalgia e que uma grande maioria esteja deliciada com o fenómeno. Agora, não posso deixar de sentir pena por algumas pessoas cuja infância ficou marcada pela Hello Kitty ou o Topo Gigio. Tanto desenho animado em condições e foram estes palermas que os marcaram? Pobres infelizes. Se é para isto, mais valia terem ido trabalhar para a fábrica de uma grande multinacional, como fazem as crianças da Indonésia - sim, elas não são obrigadas, só vão porque não têm desenhos animados decentes para ver.

Imaginemos agora, se esta regressão à infância fosse extrapolada para a vida real. 

Suponho que muita gente iria para o trabalho ao pé "coxinho", como quem joga à "Macaca".  Aqueles que optam pelo autocarro, iriam colados ao motorista a perguntar, de 2 em 2 minutos, "Já chegámos? Quanto tempo é que falta?".  Claro que o último a chegar ao trabalho seria um ovo podre e quando fosse altura de entregar o relatório ao chefe, jogava-se à "Apanhada" ou à "Batata Quente" (acho que isto já é mais usual).

Pela hora de almoço, a cantina das empresas seria um inferno. Um monte de engravatados a chorar e berrar para não comerem a sopa toda, enquanto outros lá se resignavam desde que alguém lhes desse a sopa à boca e empregasse a técnica do aviãozinho. Acabados de comer, lá iam felizes para o recreio - fumar um cigarro e beber um café - mas não sem antes atirarem uns balões de água aos fiscais da EMEL que passavam na rua.

De volta ao trabalho, o mais espertalhão da turma, ou departamento (como queiram), punha a circular um pequeno bilhete a dizer "O Zé das fotocópias faz xixi na cama ihihih" - o que causaria a gargalhada geral. E que reboliço seria! Se o chefe apanhasse o autor da brincadeira é que era pior...teria que ir para o canto da sala, ficar de pé e de costas para os colegas, até ao fim do horário laboral!

Já em casa, uma discussão conjugal sobre o facto de o marido não ajudar a mulher nas tarefas domésticas seria qualquer coisa como:

- Nunca me ajudas a fazer o jantar ou a arrumar a casa! És um egoísta preguiçoso!
- Quem diz é quem é!
- E pára de ser infantil!
- Não estou a ser infantil! Tu é que cheiras mal da boca!

Claro que uma divergência destas seria facilmente ultrapassada com uma sessão de sexo ardente. Num contexto normal o marido diria:

- Estou louco para te despir e atirar para cima da cama...
- Mas hoje sê mais meigo que não quero à bruta...'tá?

Dado a regressão à infância verificada, o diálogo seria:

- Queres brincar aos pais e às mães?
- Sim, mas hoje não vale bujas!

É no meio desta brincadeira que se ouve o filho do casal gritar do lado de fora do quarto:

- Mãaaae! Paaaaai! Ainda tenho foooome! Estão a brincar às "Escondidas"?
- Sim, a mamã já vai, agora está no coito! 

Ok, rebenta a bolha.












segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uma Aventura no Supermercado


Toda a gente se lembra da famosa colecção “Uma Aventura”, da Ana Maria Magalhães e da Isabel Alçada (a própria que se meteu na bela aventura do Ministério da Educação). Uma destas aventuras passa-se no supermercado, onde os protagonistas descobrem diamantes nos tubos de pasta de dentes, certo? Pois, mas não me aconteceu nada disso. Claro que não, até porque para isso acontecer não poderia ter ido ao supermercado sozinho. Tinha que levar um amigo que gostasse de “andar à porrada” por tudo e por nada, um com a mania que é espertalhão, umas gémeas palermas e eu podia ser o outro, aquele que só existia para ser dono do cão.

De qualquer forma, uma ida ao supermercado pode sempre ser uma aventura carregada de adrenalina, mesmo não envolvendo diamantes ou grupos de amigos multifuncionais.

Vou frequentemente ao Pingo Doce ao pé de casa. Lá, tento sempre fazer uma análise do desempenho dos “caixas”. Vejo os que são mais rápidos, que fazem as filas andar a bom ritmo, os que se enganam nos trocos, os que são mesmo nabos (o que é obra para quem só tem de passar códigos de barras num leitor), e por aí fora. Depois desta análise, sempre que me dirijo à caixa escolho o que me dá garantias de pagamento mais rápido, tal qual um treinador que escolhe o seu melhor ponta-de-lança. E foi desta forma que cheguei à conclusão que sou um Carlos Queiroz dos “caixas”. Fico sempre na fila mais lenta e quando é a minha vez de ser atendido e me perguntam “Quer saquinho?”, já só me apetece responder “Não quero porra de saquinho nenhum, não vê que já tenho um na mão e só comprei um pacote de massa?”. Parecendo que não, isto mói.

Mas aventura a sério foi na altura do lançamento da maravilhosa campanha do Pingo Doce que abalou Portugal e perpetuou uma imagem saloia do nosso país. Aí sim, as minhas idas a este supermercado eram uma autêntica prova dos Jogos Sem Fronteiras, tal era a velocidade a que me deslocava entre prateleiras e saltava por cima de velhotas. É que por esta altura, cada loja Pingo Doce debitava o seu jingle publicitário de 2 em 2 minutos, que me fazia querer ir ao Pingo Doce só de Janeiro em Janeiro. Suponho que se o Van Gogh lá passasse teria cortado a outra orelha.

Finalmente, algum génio conseguiu lembrar-se que era agoniante fazer compras sem tampões auriculares e pararam de massacrar clientes. Hoje em dia sou mais feliz a circular no supermercado em questão, e já tolero melhor quando estou a querer pagar, e a senhora da frente, que acabou de descobrir que é vizinha da menina da caixa, está a falar dos melhores autocarros para voltar para casa – “Oh menina, vá de 42 até Chelas e depois muda para o 35!”. Haja paciência.


 








Elvis goes shopping and..........................................so does Chewbacca.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Se é para manifestar, é para manifestar à séria!


O dia de ontem ficou marcado pela manifestação nacional dos estudantes do secundário. Apesar de alguns nem sequer saberem porque é que se estavam a manifestar (mas é sempre fixe e é menos um dia de aulas para ir), outros estavam cientes que era urgente defender os seus interesses. Se em Lisboa se contestava a falta de funcionários nas escolas (é que há tão poucos que os estudantes podem fumar charros à vontade - e sem perigo de serem apanhados não tem a mesma piada), já em Beja, pedia-se o fim dos exames e do regime de faltas. Isto sim, são alentejanos contemporâneos que lutam contra o estigma do "alentejano preguiçoso-que-não-faz-nada-sem-ser-dormir". Sim, porque sem exames e sem regime de faltas não quer necessariamente dizer que eles fossem ficar em casa a dormir! Iam era, com certeza, fazer algo mais produtivo como...agora, de repente, não estou a ver.

Embora os motivos da manifestação em Beja fossem extremamente plausíveis, a adesão à causa não foi massiva. Num percurso de cerca de 200 metros, e escoltados por dois carros e uma mota da polícia (10 agentes no total), a mensagem de protesto foi espalhada...por 5 estudantes. Houve quem fosse levado a crer que se tratava de uma manifestação de agentes da PSP escoltada por 5 miúdos à paisana.

Depois de mostrarem um pouco o seu desagrado, a campainha soou anunciando o fim do intervalo e os miúdos acabaram com a parvoíce e foram para a aula, antes que desse o 2º toque e levassem falta.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Crime e Castigo (para crianças do futebol)

Numa medida inédita, Sporting e Benfica decidem aplicar o mesmo castigo aos jogadores Maniche e Luisão. Após análise dos seus recentes comportamentos em campo, foi determinada uma causa única nos dois casos. Desta forma, os clubes proibiram o antigo hábito que estes jogadores tinham de ver filmes do Chuck Norris antes dos jogos. Para além disto, Maniche e Luisão vão integrar as equipas dos escalões infantis das respectivas equipas por reveleram uma maturidade futebolística própria desta faixa etária.

Caso as sanções não surtam efeito, os jogadores devem abandonar as carreiras futebolísticas e enveredar pelo mundo da moda, visto terem sido bafejados pela Natureza por uma beleza rara.






segunda-feira, 8 de novembro de 2010

No rescaldo do Porto - Benfica

As claques do Benfica já anunciaram que na próxima deslocação ao Estádio do Dragão, serão eles próprios a apedrejar veementemente (esta palavra eles não usaram, não sabem o que significa) o autocarro do SLB. Assim, o Luís Filipe Vieira anuncia que não há condições para jogar, que no fundo foi o que aconteceu ontem apesar de ainda se terem equipado.
 
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dicionário Político-Português (com variantes)


Tantas vezes são aquelas em que os políticos são apelidados de hipócritas, gatunos, filhos de senhoras que recebem dinheiro em troca de sexo, e outros termos carinhosos. No entanto, outras tantas vezes, estes nem sequer são compreendidos por uma grande parte da população portuguesa.
Torna-se premente a criação deste dicionário, que espero poder contribuir para uma melhor comunicação entre os diversos sectores da nossa sociedade. Para uma aprendizagem mais rápida, são dispostas frases por inteiro seguindo-se as respectivas traduções.


Político: Apelo à cooperação das forças políticas para que se possa alcançar a estabilidade dos mercados!

Português da tasca: É bom que ajudes o teu irmão a tratar disto, antes que leves no focinho!
Português dos mitras: Gira lá o teu ‘móvel antes que levejuma chinada!

Político: O seu discurso é falacioso e não passa de uma espiral de contradições!

Português da tasca: Ainda não mandastes uma pá caixa!
Português dos mitras: Sóce, eu não fui à escola, não percebo o que tájadizer.

Político: Muito bem! Apoiado!

Português da tasca: Eheh (e coça a barriga)
Português dos mitras: Ya sóce.

Político: É preciso uma rectificação urgente ao Orçamento do Estado!

Português da tasca: Já te enganaste a fazer a merda das contas, seu cara de cu!
Português dos mitras: Tájóvir? Tájadever-me déjeuros pute!

Político: O senhor é um demagogo!

Português da tasca: É pá, és um merdas!
Português dos mitras: Ya, tipo, vai para a #$%& da tua mãe!


Por este prisma, o discurso político é o menos pragmático. Embora os outros dois tipos de discurso estejam pejados de violência, têm o mérito de levar à acção mais facilmente.

Mais tarde, traduzirei o discurso político para outras variantes do português.


 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Graças a quem?

Chego ao trabalho.
Digo: “Esse fim-de-semana, foi bom?”
Oiço: “Foi, graças a deus!”
Penso: “Boring…”

Mas o que é que deus (sim, sou daqueles hereges rebeldes que escreve deus com letra minúscula porque não estou a falar de nenhum deus em particular) tem a ver com o fim-de-semana?

Ora, pensemos num casal ainda jovem e com filhos pequenos. É sábado, o casal acorda e os putos já estão a ver desenhos animados na TV, graças a deus (porque inventou os desenhos animados, de certeza). O almoço sabe bem e vão andar todos de bicicleta à tarde. Graças a deus ninguém se aleijou e a digestão não causou mal-estar! À noite, o Benfica ganha. Graças a Jesus? Quase isso. Graças a deus (e neste caso não é o Maradona)!
Para acabar em beleza, o sexo conjugal corre às mil maravilhas. Foi deus a dar uma mãozinha? Esperemos que não.

Ok, acreditemos que deus existe. Desculpem lá, acham mesmo que ele se ia preocupar com a porcaria do vosso fim-de-semana? Não tem milagres para fazer, é? Criancinhas para salvar? Padres para impedir de serem pedófilos? Tem tempo livre suficiente para andar a brincar às famílias felizes?

Dilema de Deus (por exemplo, o cristão) num sábado “Salvar os paquistaneses das cheias ou não deixar o Pedrinho cair da bicicleta? Ora, o Pedrinho vai à missa todos os domingos. Os paquistaneses nem sequer acreditam em mim. Parece-me óbvio.”



terça-feira, 2 de novembro de 2010

E a birra continua.

Hoje começa o debate parlamentar sobre o OE 2011.

As mães dos deputados podem pôr os biberons já a aquecer porque o mais certo é isto dar birra outra vez.

Volta e meia, surgem notícias de confrontos físicos em certos parlamentos, como no México ou Ucrânia, mas isso são países de "duros". Não deixam de ser óptimos exemplos para as respectivas comunidades, já de si com baixos índices de violência, mas aqui em Portugal até a palavra "confrontos" já soa a exagero. Aqui, é mais à base do mimo.

Governo: "Eu quero reduzir o défice e não quero saber das famílias pobrezinhas!"
Oposição. "Ooohhh, mas porquê? Não subas os impostos, vá láaaaa!"
Governo: "Já disse que não pode ser, eu é que inventei a brincadeira, eu é que mando!"
Oposição: "Ah é? Então não brinco mais contigo! Brincas tu sozinho e nunca mais sou teu amigo!"
Governo: "Mariquinhas! Não queres brincar porque se isto correr mal vou sozinho para o castigo!"
Oposição: "Quem diz é quem é e o teu pai cheira a chulé!"

 E assim seguem alegremente, até a mãe (provavelmente o FMI) ralhar com eles e dizer para pararem com as parvoíces.