segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Centro de Emprego - a comemoração ao vivo da biodiversidade.

Há poucos dias tive que me deslocar ao Centro de Emprego para obter uma declaração. Durante todo o percurso até lá, seguia angustiado a pensar na seca descomunal que iria apanhar à espera da minha vez. Surpresa, o Centro de Emprego é um mundo encantado onde coexistem seres humanos normais e outras subespécies mais raras - o que proporciona um bom pedaço de entretenimento a um intrépido explorador como eu.
Entre as subespécies mais raras, encontram-se aquelas pessoas que estão realmente transtornadas com a vida e precisam mesmo de um trabalho. Entre os seres mais comuns, transparece a despreocupação de quem vive facilmente com o subsídio de desemprego e apenas tem que se apresentar periodicamente naquele espaço.

Enquanto esperava calmamente a minha vez, fui observando o que me rodeava. Uma senhora chinesa, com um bigode de fazer inveja ao António Sala, pediu um formulário qualquer. Estava vestida com roupa de restaurante das suas origens, mas fiquei com a ideia que procurava na vida algo mais que fritar crepes ou cortar em pedacinhos os seus familiares idosos para fazer chop suey.  O que se passava é que a senhora precisava de preencher um formulário (após ter tirado uma senha branca) para depois tirar uma senha verde (um daqueles mimos da burocracia). Acontece que o seu telemóvel tocou, ela atendeu e uma funcionária do Centro gritou "Lá fora! Tem que falar lá fora!". A senhora chinesa acatou a ordem, foi lá fora e voltou passados 5 minutos. Dirigiu-se à mesma funcionária e pediu então a senha verde. A funcionária diz "Agora já não dá, já passa das 16h, só amanhã." - já vi maneiras mais subtis de dizer "Volta para a tua terra que aqui não há emprego para ti sua chinoca!".

Durante o tempo em que lá estive, entre toda a diversidade de seres, fiquei impressionado com a quantidade de gordos, muito gordos, que lá havia. Fiquei a pensar que, de facto, devem precisar de 2 ou 3 empregos para sustentar aquele porte físico. Por outro lado, se forem mesmo desempregados também não é assim tão dramático, já vi ursos polares sobreviverem aos Invernos rigorosos do Pólo Norte com bem menos reservas.

A certa altura, entra pelo Centro adentro um indivíduo com um fato de treino do Benfica - clássico. Que vão assim para o Colombo, ou qualquer outro espaço comercial, até já estou habituado, no Centro de Emprego foi novidade. O pior é que, pelo ar alucinado dele, fiquei com a certeza que ele não estava ali para arranjar emprego. Fiquei antes o tempo todo a pensar que a qualquer minuto ele iria sacar de um arma, e do cartão de sócio do seu Benfas, e sequestrar todos os presentes exigindo a demissão do Jorge Jesus.

Como podem ver, o meu tempo de espera passou rapidamente. Foi como ver um episódio do BBC Vida Selvagem ao vivo. Quando dei por mim já estava a ser chamado e tive a sorte de me calhar uma funcionária competente e tudo! Pena que o código de trabalho não reconheça (e, por isso, não consta na base de dados do Centro de Emprego) a minha área profissional, marketing. Tive que escolher outra área. Sugeri "político", mas logo achei que não era reconhecido no código de trabalho nem em lado nenhum.



 

2 comentários:

  1. Mas olhe que nem sempre as pessoas são gordas por comerem mais que uma manada de mamutes. Muitas vezes, essas pessoas têm um parco orçamento que paga comida que engorda e muito. Peixe, carne branca e vegetais são mimos hoje em dia. Mas obviamente que não estamos a falar de todos os gorditos e gorditas. Mas olhe que é o que acontece com muita gente.

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