segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cerimónias com piada e os Globo de Ouro em Portugal

Porque é que os Globos de Ouro (americanos), os Bafta e os Óscares são sempre cerimónias com piada e os Globos de Ouro em Portugal são só altamente entediantes e pedantes (salvo alguns momentos excepcionais)?

É simples.

Em Portugal, toda a gente se leva demasiado a sério. Qualquer licenciatura serve para sermos tratados por doutor ou senhor engenheiro, mesmo que tenhamos tirado o curso de Análise de Factos Irrelevantes e Estudos De Coisa Nenhuma.

Muitos jornalistas têm o hábito execrável (imposto pela sociedade mas para o qual tanto contribuem) de tratar os entrevistados por “sotôr”, que é o extremo do já ridículo “senhor doutor”, bastando que estes estejam de fato e gravata. Como se tratar alguém pelo nome próprio fosse algo infame. É coisa de pobre? É coisa de plebeu que não pertence à nobreza e não possui uma série de títulos? Ou é só uma necessidade angustiante de aprovação, poder e reverência alheia? Claro que no caso das pessoas que se chamam Rúben Igor ou Soraya Priscila, eu até percebo. Fora isso, é apenas a nossa mentalidade pequenina de acharmos que somos muito mais do que aquilo que somos na verdade.

Lá fora, há apresentadores incríveis (com textos ainda melhores) e que podem gozar com o facto de o George Clooney só andar com mulheres mais novas, podem dizer algo como “vamos receber o Leonardo DiCaprio de forma calorosa, tal como uma vagina de uma super-modelo” ou que o Martin Scorsese e o Woody Allen competem pelo título de homem mais pequeno com os maiores óculos (tudo isto, só agora nos Globos).

Cá, os Globos de Ouro são apresentados pela incrivelmente insípida (insuportável, diriam alguns), e sem qualquer piada, Bárbara Guimarães e seria uma blasfémia dizer na cerimónia que o José Raposo gosta de miúdas com menos 30 anos que ele (se calhar também é blasfémia compará-lo ao Clooney), dizer algo como “recebamos de pé, como tantos homens já o fizeram, a Marta Leite de Castro” ou que o Manoel de Oliveira chegou a participar na pintura das figuras rupestres de Foz Côa.

Ui, o escândalo.

Não se pode gozar, não se pode brincar, não se pode provocar. Somos todos muito importantes (pelo menos achamos isso quando nos vemos ao espelho ou na capa da Caras) e ninguém se pode meter connosco e com as nossas mentalidades afectadas.

E nós temos gente com piada e gente que escreve textos brilhantes, assim como há muitos famosos que encaixariam as piadas tranquilamente, se fossem eles os alvos.

Mas não pode ser. A Irmã Lúcia pode ficar ofendida e depois temos que ir de joelhos a Fátima pedir perdão pelos nossos pecados.


Enfim, como já disse uma vez, vivemos numa República de Virgens Ofendidas.


Sem comentários:

Enviar um comentário