A época natalícia chegou ao seu auge. As iluminações de rua brilham por todo o lado, o consumismo desenfreado fez-se sentir no ar, as musiquinhas características já irritam. Por causa da tão mal fadada crise, este Natal foi mais severo e muitas famílias viram-se obrigadas a cortar em certos gastos, tal como o Governo aconselha. Quem costumava comer bacalhau, comeu antes uma lata de atum, e quem estava habituado a peru teve que se contentar com um franguinho da Guia. Mas não é só. Os bolos Rei foram substituídos por donuts com fruta cristalizada, enquanto que os pinheiros, tão carinhosamente decorados todos os anos, deram lugar a bonsais.
É triste mas tem de ser, há que cortar nos gastos, há que impedir o consumismo natalício, não vá isso alavancar a economia e o país melhorar a sua situação financeira (nem que seja por um mês)! E é na tarefa estóica de travar o apelo ao consumo desta época que surge o precioso auxílio da Igreja sob a forma de Bandeirola do Menino Jesus (há quem chame estandarte, mas eu gosto mais de bandeirola). Esta bandeirola representa, supostamente, os valores tradicionais do Natal e opõe-se ao consumismo. Agora o mais importante, por uns espantosos 12€ (mais portes de envio), pode obter em sua casa um fantástico “Kit Estandarte de Natal” que inclui a bandeirola, uma mensagem do Bispo D. Carlos Azevedo e ainda um espectacular Evangelho Diário!
Com esta ideia paradoxalmente genial, a Igreja não faz mais que canalizar todo o consumismo da sociedade cristã para a compra massiva deste kit com intenções beneméritas. Ou seja, troca o consumismo pelo consumismo, o que é óptimo! É como se os talhantes fossem vegetarianos mas continuassem a adorar vender peru recheado. Sempre com ideias inovadoras a Igreja!
Esta luta contra o consumismo na forma de S. Nicolau – vulgo Pai Natal - tem tido uma grande adesão por partes dos cristãos, e é desta forma que o menino Jesus surge pendurado em tantas janelas, tal qual o filho bebé do Michael Jackson naquele hotel de Berlim. Mas, o que é intrigante, é o facto de não se verem estas bandeirolas em, por exemplo, bairros sociais ou mais carenciados. Onde se vê com frequência aliás, é nas zonas “nobres” da capital. BMW e Mercedes à porta, brutas casa com todas as comodidades possíveis e imagináveis…mas atenção! No dia 25 não se gasta dinheiro em banalidades! Sim, p'favor, pa' isso há os outros 364 dias, tá a ver? Além disso aquele menino à janela fica súpê amoroso!
Por outro lado, e não querendo ser intriguista, não deixo de achar curioso que numa altura em que surgem cada vez mais casos de padres pedófilos, se insista em pôr uma criança nua à janela. Há limites.
Enfim, que todos tenham tido um feliz Natal, com ou sem menino Jesus, com mais ou menos idiotices.